sábado, 23 de maio de 2015

Guitarra e Jazz - parte II

O êxito das guitarras de tampo arqueado


  Em 1902, Orville H. Gibson fundou em Michigan uma fábrica de instrumentos que dominou por décadas o mercado das guitarras de tampo arqueado. A L5 e a Super 400, os dois modelos acústicos clássicos, foram pensadas para que os músicos de jazz conseguissem o volume de que tanto ansiavam.
  Durante a década de 30, os protótipos construídos por Gibson coexistiram com as guitarras fabricadas, entre outros, por John D'angelico, um construtor estabelecido em Nova York a quem sucedeu o seu sócio, Jimmy D'Aquisto, no final da década de 1960. Também as guitarras de tampo arqueado das marcas Epiphone e Stromberg gozavam de grande fama entre os músicos.
  A competição entre os diferentes fabricantes era constante e vinha já do passado: em meados da década de 1930, a Ephipone lançou a Epiphone Emperor (uma acústica de luxo) como resposta à Super 400 de Gibson. Em 1941 a Epiphone também lançou o modelo Deluxe como resposta a L5 de Gibson. 
  A marca francesa Selmer comercializou por volta de 1932 um design de Mário Maccaferri que incluía uma câmara de ressonância adicional no interior do corpo (algo parecido com as guitarras amplifônicas produzidas pelas marcas Dobro e National, cuja caixa incorporava um cone de ressonância de alumínio). Tratava-se da guitarra de jazz europeia, que a partir de então ficou associada ao lendário guitarrista Django Reinhardt.
  Cada construtor oferecia numerosos modelos de tamanhos e formas variadas os quais se converteram em clássicos muito apreciados pelos colecionadores.
  Por vezes, as guitarras eram fabricadas por encomenda, embora cada casa possuísse um vasto leque de modelos para escolher. É o caso das guitarras Stromberg, que no início eram construídas somente por pedidos expressos dos músicos, embora entre as décadas de 1930 e 1950, graças ao aumento da popularidade desses instrumentos entre os intérpretes de jazz, optaram por um catálogo com sete modelos básicos.


Tentativas de amplificação

  Entre 1920 e 1930, ocorreram numerosas tentativas de aumentar o volume da guitarra sem que esta perdesse a musicalidade própria da guitarra acústica.
  Lloyd Loar, empregado de Orville Gibson entre os anos 1919 e 1924, também começou a experimentar a amplificação elétrica da guitarra.
  O desenvolvimento da guitarra de tampo arqueado (seu volume já competia com os demais instrumentos numa banda numerosa) e o virtuosismo de alguns dos seus intérpretes fez com que o instrumento começasse a ter reconhecimento.
  No entanto, apesar da rápida aceitação nas bandas como integrante da seção rítmica, o reconhecimento como importante instrumento solista chegou somente mais tarde.
  O fato é que, nas gravações da década de 1930, o destaque da guitarra sobre os demais membros da banda ainda se conseguia de modo artificial através da colocação de um microfone, recurso este que não se podia ignorar em apresentações ao vivo. Assim, até o final desta década, quando os instrumentos musicais começaram a estar ao alcance de todos, somente as pequenas formações permitiam o uso da guitarra como solista.
  O aparecimento no mercado dos primeiros exemplares de guitarras elétrica ocorreu em 1931 graças a Adolph Rickenbacker, um fabricante de instrumentos nascido na Suíça no final do século XIX que se estabeleceu em Los Angeles por volta de 1920. Uma das primeiras elétricas construídas por Rickenbacker foi a Electro Spanish, fabricada entre 1932 e 1935, e que possivelmente foi a primeira guitarra eletroacústica da história. Na realidade, tratava-se de protótipos acústicos com cordas normais que incorporavam um fonocaptador elétrico e seletores na caixa. Em 1936, apareceu no mercado a Gibson ES150, uma guitarra eletroacústica de tampo arqueado que se estabelecera como o modelo padrão de jazz.
  A partir de então e até a década de 1940, alguns instrumentistas encarregaram-se de explorar as qualidades sonoras da guitarra elétrica, que se tornou o modelo próprio da tradição do jazz. Ainda assim, a guitarra acústica não abandonou o jazz; o seu tom íntimo e quente, que apesar de tudo a amplificação não tinha conseguido preservar, tornavam-na especialmente indicada para as apresentações em grupos reduzidos.


- Coleção Instrumentos Musicais, nº 9, ed. Salvat;
- i.Italy.org;
- Selmer;