domingo, 30 de abril de 2017

Carnaval e Fascismo

Entrudo na rua do Ouvidor (RJ).
Ilustração de Angelo Agostini, 1884
   Um traço comum no carnaval de diferentes épocas e países é o de virar as regras do avesso. Nos primeiros carnavais do Brasil, porém, não haviam tantos papéis trocados, mas uma reviravolta de comportamentos era presente.
  Durante as festas conhecidas como entrudos, as pessoas atiravam bolas de cera nos outros e faziam guerrinhas d'água pela rua.
   Em 1832, por exemplo, o jovem inglês Charles Darwin visitando o Brasil, ficou assustado com o carnaval baiano e deixou escrito em seu diário: "Estes perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias d'água e molhados com esguichos de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade enquanto caminhávamos pelas ruas".
Hitler, Mussolini e Vargas

   Na maior parte da história do Brasil, o carnaval foi uma algazarra deliciosamente sem noção. Mas suponha que, de repente, um ditador bem metódico, militar e fascista, alguém como o italiano Benito Mussolini, aliado de Hitler na Segunda Guerra Mundial, tivesse o direito de regular essa bagunça para torná-la orgulho da nação. Como seria um carnaval organizado por Mussolini?

   Como em um desfile patriótico, os carnavalescos
Portela concentrada no carnaval de 1932.
marchariam em linha reta, com tempo metodicamente marcado para cada evolução. Passariam diante de autoridades do governo e de jurados, que avaliariam a disciplina, o figurino e a média de acertos dos grupos, dando notas até dez. A organização do carnaval permitiria apenas músicas edificantes e patrióticas. Para ressaltar a pátria e deixar de fora a influência estrangeira, a melodia só poderia ser executada por instrumentos considerados da cultura nacional.
   Se adicionarmos celebridades quase nuas e muitas penugens, o cenário fica parecido com a Sapucaí. 

Desfile de carro alegórico em São Paulo, 1962.
   Foi mais ou menos assim que nasceu o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Seu formato atual deve muito a costumes e ideologias fascistas da década de 1930, além do interesse de Getúlio Vargas de misturar sua imagem à cultura nacional e popular, exatamente como Mussolini fazia na Itália.
  Em 1937, ano em que o governo Vargas se tornaria uma ditadura bem parecida com a italiana, foi instituído que todos os sambas-enredos deveriam homenagear a história do Brasil. As primeiras regras de avaliação e ordem do desfile nasceram dois anos antes, quando o interventor federal do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, começou a dar dinheiro para as escolas. A apresentação ocorria na Avenida Rio Branco, mesmo local onde as demonstrações militares comemoravam a Independência todos dia 7 de setembro.


Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch);
www.gazetadopovo.com.br;
www.portelaweb.org;