quinta-feira, 25 de abril de 2013

Técnica X Musicalidade

   Ao lecionar música durante esses anos e filosofando sobre a formação musical, intermináveis questionamentos surgiram e espero que continuem surgindo pois são o combustível para o aprimoramento.
   Um dos assuntos que alunos comumente levantam é: Qual é mais importante, a técnica ou a musicalidade?
   Um assunto como este é capaz de gerar intermináveis discussões sobre a hierarquia entre ambos, além de colocar na balança conceitos, pensamentos, direcionamentos de estudo, entre muitas outras coisas que atingem a grande maioria dos músicos, educadores musicais e estudantes de música.
   Exponho esse texto para refletirmos sobre o tema, além de parabenizar e dar os créditos a Marcia Kazue Kodama pela exímia imparcialidade ao tratar deste tópico que é muito subjetivo.
    Alguns músicos com maior habilidade técnica defende-na com maior ímpeto, enquanto outros com tendências musicais mais acentuadas argumentam que a musicalidade é a essência da música.
   Afinal, quem está com a razão?
  A técnica é a capacidade e a habilidade mental e motora juntamente com os conhecimentos e reconhecimentos teóricos, analíticos e estruturais necessários para a execução de uma obra musical.
   Todas essas atividades estão sob a responsabilidade do córtex cerebral, são conscientes e precisam ser aprendidas.
   A musicalidade é a capacidade do músico, de transmitir sentimentos e/ou ideias através da interpretação musical de uma forma harmônica e agradável.
   Com relação a hierarquia entre técnica e musicalidade, explica-se:
   Técnica sem a musicalidade pode possibilitar apenas o prazer intelectual. Sem dúvida é um prazer real e às vezes até muito forte, mas para sentir esse prazer intelectual a pessoa precisa ter uma formação, um treinamento e conhecimentos suficientes para tal. Para poder analisar, perceber e entender a estrutura e a riqueza formal de uma música ou de uma interpretação, é preciso uma preparação, muitas vezes confusa. O prazer intelectual é menos forte e profundo, sem contar que não consegue envolver completamente a nossa mente e o nosso "coração", como acontece com o prazer emocional. A música tocada sem expressão deixa uma sensação de vazio e a sua execução se torna impessoal e fria.
   Por outro lado, o indivíduo que consegue se envolver intensamente com a música, mas não sabe tocar uma nota sequer, não terá meio de expressar a sua musicalidade através do instrumento. A possibilidade de se expressar está proporcionalmente relacionada com a técnica. Ou seja, quanto mais técnica tiver, mais recursos de se expressar terá.
  Ambos requisitos são importantes e interdependentes. A grande questão não está em saber qual é o mais importante e sim em conseguir conciliá-los.
   A dificuldade em conciliá-los deve-se à divisão do cérebro em dois hemisférios e cada aspecto ser controlado por lados distintos.
   A técnica é controlada pelo lado esquerdo, responsável pela fala e pela razão, assim como pelo raciocínio, escrita, cálculo, lógica, análise, ritmo e também pela percepção de detalhes.
   A musicalidade é controlada pelo hemisfério direito, responsável pela entoação, altura do som, timbre e emoção, assim como pela percepção da melodia, timbre, harmonia, ruídos, os aspectos espaciais, as formas geométricas, a criatividade, o comportamento emocional e também pela percepção global.
     O aluno com tendência musical muito forte, precisa trabalhar muito o seu lado técnico para que este possa lhe proporcionar meios de mostrar as suas emoções. E para trabalhar a técnica é preciso muitas vezes controlar a emoção, mas sem oprimí-la.
   Os alunos técnicos, não musicais, geralmente são pessoas que têm musicalidade, mas ela está reprimida. Ao contrário das pessoas leigas em música, eles começam a analisar, a entender e a estudar. Começam a ver a música não apenas como uma arte, mas também como uma ciência. Eles não só percebem a música como sons que agradam ou desagradam, mas também como um conjunto de notas com uma organização rítmica, estrutural, estética e estilística passíveis de reconhecimentos e análises.
   Sendo assim, caso pretenda ser um bom músico, tenha em mente que será preciso buscar um equilíbrio entre as duas coisas, técnica e musicalidade.
Tocando com Concentração e Emoção (Marcia Kazue Kodama)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Violão: da Babilônia ao XX

   Violão

   O violão é considerado um instrumento de cordas tangidas e suas origens não são muito claras. Numa gravura babilônica do ano 1900 a.C. aparecem vários instrumentos de duas ou mais cordas, que apresentam o típico pescoço da família do violão.
   Com uma longa história, alguns pesquisadores preferem centrar-se em civilizações mais próximas ao tentar traçar a história do instrumento, sendo assim, uma hipótese é vinculá-lo a Pandura ou Trichordon presente na Grécia Antiga. Outros acreditam que chegue até a Lira do antigo Egito conhecida como Kithara. Contudo, uma das teorias que se impôs com mais força defende que o violão é derivado do Barbat, um antecessor do Alaúde Árabe. Mas todas as tentativas para estabelecer quais foram as origens do instrumento o associam ao Alaúde, cuja presença é mais antiga.
   O violão moderno ou clássico desenvolveu-se a partir dos alaúdes de braço curto que apareceram na Ásia Central durante o século IV e III a.C.
   Muitas figuras dos milênios seguintes mostram instrumentos com características parecidas com o violão. Porém, o violão, como é hoje conhecido, tem suas raízes no Renascimento.

   Vihuela

   Um dos mais significativos precursores do violão é a Vihuela, um instrumento de cordas tangidas com seis ou sete cordas duplas, popular nos séculos XV e XVI.
   A Vihuela é associada intimamente à Espanha e áreas sob sua influência, embora tenha sido usada também na Itália e em Portugal.
por Bernadino Pinturicchio, 1493, Itália   Na aparência, a Vihuela é muito próxima do violão moderno. Ela tem um corpo em forma de "8", um braço comprido e mão inclinada para trás em um ângulo pequeno. Rosetas, frequentemente, são colocadas no corpo e funcionam como aberturas. A Vihuela tinha trastes, usando 10 extensões de tripa amarradas em volta do braço para pressionar a corda.
   O motivo pelo qual a Vihuela foi tão popular na Espanha renascentista, numa época em que o alaúde era usado no resto da Europa para os mesmos propósitos, não está claro. Todavia, a forte associação do violão com a Espanha começou nessa época e a paixão espanhola pela Vihuela foi responsável por sua introdução na América Latina durante sua colonização.

   Violão Barroco

   Os violões da Europa do século XVI eram consideravelmente menores do que o instrumento moderno. Inicialmente, eles tinham quatro cordas duplas.
   Violões barrocos têm frequentemente uma roseta simples central com abertura, e entre oito e dez trastes de tripa. A afinação das cordas duplas não era de forma alguma fixa, uma característica compartilhada com a Vihuela: eles eram frequentemente alterados para combinar com a música executada.

   Violão do século XVIII

   Os violões de seis cordas simples mais antigos começaram a surgir na segunda metade do século XVIII. Os trastes de tripa deram espaço a escalas especialmente criadas, com trastes de marfim ou metal embutidos; a roseta central tornou-se uma abertura completa; o braço foi estreitado; e as proporções foram alteradas.
   Até este momento, ainda não havia técnica padronizada - os instrumentistas estavam divididos sobre a melhor forma de tocar as cordas: utilizando a unha ou não. Mesmo assim, nesse período é que foram escritas as primeiras peças duradouras para violão.
   As obras de Fernando Sor e Mauro Giuliani, embora pequenas, são geralmente charmosas e elegantes e ajudaram a popularizar o violão.


   A influência espanhola

   O violão é mais conhecido atualmente pelo modelo construído pelo espanhol Antonio de Torres Jurado, que foi fundamental para o desenvolvimento do violão moderno. Ele fixou o comprimento da corda vibratória em 65 cm, aumentou as dimensões gerais, usou 19 trastes, alterou a construção da caixa de ressonância e padronizou a afinação das cordas.
   Essas alterações foram tão bem sucedidas que o molde de Torres tornou-se um padrão aspirado por todos os outros construtores - e motivo pelo qual é conhecido hoje como violão clássico.
   O indubitável brilhantismo de Torres não foi suficiente para o violão alçar vôos maiores e, por algum tempo, ele permaneceu confinado à Espanha.
   O apoio de compositores, como Francisco Tárrega e Emílio Pujol, aumentou o número de admiradores do violão, mas foi Andrés Segovia que finalmente lançou o violão moderno.


Manual Ilustrado dos Instrumentos Musicais (Lucien Jenkins);
Coleção Instrumentos Musicais, n.1 - Violão. Ed. Salvat;