quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2021

 Falta pouco para iniciarmos o novo ciclo de 365 dias.



 Que 2021 tenhamos muita paz, luz, saúde e discernimento para evoluirmos com tudo que vivemos e presenciamos em 2020.

 Desejo do fundo do coração que este novo ano seja próspero para todos!!

 Muita música!!!

  

domingo, 29 de novembro de 2020

A Vila Emudeceu

  Um carro pomposo estava encostado no pé do morro e o dono, todo afobado, procurava Angenor de Oliveira. Era o cantor Mario Reis procurando o tal do compositor para comprar-lhe um samba. Pagou na hora trezentos mil réis, moeda vigente da época. O comprador acabou repassando o samba para Francisco Alves, outro cantor bastante popular na época.

  A propagação do negócio, aumentou muito a fama do compositor Cartola entre os sambistas e o "asfalto". Seu parceiro Aluísio Dias, que batalhava nos pontos dos cantores para "colocar" este ou aquele samba, não conseguia convencer o amigo para descer até a cidade e mostrar seu trabalho. Cartola, que em qualquer outra situação mantinha a altivez e a dignidade, dizia que não iria implorar nada a ninguém. Quem quisesse samba seu que tratasse de sujar a barra da calça na lama das ladeiras de Mangueira e fosse buscá-lo no morro. Ele não iria à cidade.

  Por fim, a cidade foi a ele. E de maneira mais gloriosa. Com a popularização do chamado samba-de-morro, Noel Rosa percebeu de imediato a qualidade musical dos compositores daquela área e interessou-se pela técnica instintiva de criação, pela engenhosidade nata, pelo talento natural dos brilhantes criadores de origem humilde. Acabou por aproximar-se deles e o que aconteceu foi uma proveitosa troca de experiências: o poeta culto da cidade ensinando o que sabia de seu lado da moeda e aprendendo a outra face com os compositores de inspiração popular.

  Atravessando noites nas tendinhas do morro da Mangueira, era natural que Noel se aproximasse de Cartola. Em pouco tempo a amizade consolidou-se e a parceria transbordou, líquida e sonora. Os porres que a dupla tomava eram monumentais, e os sambas que faziam, lindos.

  Antes de Cartola, o samba-de-morro tinha somente a primeira parte, a segunda era sempre improvisada. Mesmo como autodidata, estudando o braço do instrumento, Cartola desenvolveu a segunda parte do samba trocando experiências com Noel, compondo com ele, firmando a amizade, muitas vezes interferindo um na obra do outro, sem que isso aparecesse na parceria.

  Uma história curiosa da dupla , e que Cartola sempre reproduzia vitoriosamente, foi a de quando estavam completamente sem dinheiro num bar do Maracanã, quando apareceu o cantor Francisco Alves. Apesar da fama de avarento, tomaram coragem e foram pedir um dinheiro ao conhecido comprador de sambas. Depois de muito relutar, Francisco Alves fez o desafio. Daria cem mil réis (valor alto na época) a cada um, mas queria um samba composto na hora, um de Noel, outro de Cartola. "Tinha um chafariz na frete do botequim. Fomos para lá e em uma hora os dois sambas estavam prontos".

 Por volta de 1932, o compositor da Mangueira tinha pronta a primeira parte de um samba. Qual foi o mal que eu te fiz. Noel gostou da ideia e fez a segunda parte, mas quando Francisco Alves comprou a composição, na hora de acertarem as contas, Noel não quis receber nada, dizendo que a colaboração dele fora mínima. A amizade cresceu muito e, quando Noel morreu, aos 26 anos, em maio de 1937, Cartola ficou abaladíssimo. Para o amigo, compôs um réquiem em forma de samba, chamado A Vila Emudeceu.


a Vila emudeceu
dolorosamente chora o que perdeu
ninguém é imortal
morrer é natural

Oh Deus, perdoa
se é que estou pecando
que mal lhe fez a Vila,
que estás torturando?

era o rei da filosofia,
fez da vida o que queria
usou da imaginação
os seus versos ritmados
por ele mesmo cantados
tinham bela entoação

na Vila onde, ele morava
todos os seres cantavam as glórias dos seu poeta
hoje a Vila é triste muda, ao bater Ave-Maria
quando aurora desperta


fonte                                                                                                                       :
Cartola - Semente de amor sei que sou, desde nascença. (Arley Pereira);
Pinterest;

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Japan Memory



 Lembrança e saudade de um ensaio muito produtivo e bom com o saxofonista e colega Hasegawa.

 Brilhante músico que conheci nas ruas de Shizuoka, e que tive a honra de realizar um projeto musical.


 I remember and miss a very productive and good rehearsal with the saxophonist and colleague Hasegawa.

 Brilliant musician that I met on the streets of Shizuoka, and that I had the honor of carrying out a musical project.



fonte                                       

Arquivo pessoal;

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Juventude de Chet Baker


 Quem o viu iniciar a carreira na cena do jazz, acompanhando ninguém menos do que o gênio do bebop, charlie Parker, em 1952, não imaginaria que aquele trompetista com pinta de galã seria o protagonista de uma história tão trágica.
 Décadas apos sua morte, o carisma musical de Chet Baker permanece vivo em suas gravações. Expoente da geração do coll jazz (West Coast jazz), apoiado na típica sonoridade sem vigrato de seu trompete, Baker também conquistou muitos fãs como cantor. Seus vocais suaves e contidos, quase sussurrados, chegaram até influenciar músicos brasileiros, como os tropicalistas Caetano Veloso e Gal Costa ou vários adeptos da bossa nova.

 Nascido em Yale, em uma modesta comunidade agrícola, no estado de Oklahoma, na mesma fazenda que Vera, sua mãe, nascera. Chesney Baker, o pai, era um músico frustrado. Durante alguns anos conseguiu realizar seu sonho de tocar violão e banjo, em bandas de country, mas depois que a recessão econômica se instalou com a crise de 1929, ele foi obrigado a trocar a música, e as constantes viagens com suas bandas, por qualquer trabalho manual que pudesse garantir a sobrevivência da família.

 O garoto mal tinha completado um ano de idade quando os Bakers mudaram para Oklahoma City, em busca de novas possibilidades de trabalho. Apesar de ter passado quase toda a infância nessa cidade, Chet jamais se referiu a ela com qualquer sinal de afeição ou nostalgia. "Oklahoma é uma lata de lixo cultura", dizia, referindo-se ao fato de os habitantes da cidade gostarem tanto de country, "omais terrível tipo de música do mundo", em sua opinião. Para seu alívio, a família mudou para Glendale, na Califórnia.

 Chet não se interessou por música até os 12 anos. Tinha muita habilidade para os esportes. Dedicava boa parte do seu tempo livre à natação, ao basquetebol ou à corrida. Mas também gostava de cantar junto com o rádio, para deleite da mãe. Como tinha um prazer especial em exibir a beleza do filho, Vera o levava a concursos de talentos infantis.
 Nessas competições, Chet enfrentava acordeonistas ou sapateadores (todos acompanhados pelas orgulhosas mães), cantando um repertório pouco adequado para sua idade: canções sensuais capazes de fazer tanto garotas como senhoras bem maduras suspirarem ao ouví-las. Por isso, talvez, o garoto jamais venceu qualquer um desses concursos. Só chegou ao segundo lugar, uma vez. 

 Diana Vevra, última mulher de Chet, alfinetando a ex-sogra, contou ao biógrafo James Gavin que foi a própria Vera que ensinou ao filho essas canções de conteúdo erótico. 

 Chet participava desses concursos mais para alegrar a mãe. Não gostou nada quando foi chamado de "maricas" por algumas crianças concorrentes, que o gozaram porque sua voz aguda ainda lembrava a de uma garota.

 Já o pai de Chet estava longe de apreciar os vocais meio femininos do filho. Talvez por isso tenha decidido, num impulso, lhe dar um trombone de vara, sem pensar que, aos 12 anos, o garoto ainda não crescera o suficiente para tocar um instrumento tão grande. Chesney ficou decepcionado por ter que trocá-lo por um trompete.  Gostava de jazz tradicional, em especial do trombonista Jack Teagarden. Pelo conseguiu que o filho se interessasse pelo instrumento: deois de algumas semanas, o esperto Chet já conseguia acompanhar com seu trompete uma gravação de Two O'Clock Jump, com a orquestra de Harry James.

 Meses depois, um acidente demonstrou a perseverança do garoto. Chet estava tocando se trompete na rua quando foi atingido acidentalmente por uma pedra. Não bastasse a dor que sentiu por causa do dente frontal quebrado, o garoto ainda teve que aguentar a irritação do pai, gritando que, sem aquele dente, ele não poderia mais tocar.

 Chet não levou a sério o escarcéu do pai. Sem se preocupar com o fato de que a ausência do dente frontal dificultaria bastante o controle de ar, continuou praticando o trompete com muito afinco até encontrar um novo jeito de extrair o som do instrumento. O único problema é que não conseguia mais alcançar as notas agudas, só as médias, mas acabou se convencendo de que sons agudos serviam apenas para os músicos exibicionistas chamarem a atenção do público.


 Vera até providenciou um dente postiço para cobrir a falha na boca do filho, mas ele raramente o usava, talvez por orgulho ou por receio de que o dente falso caísse na frente de alguém. Chet preferiu adotar o hábito de esconder a falha nos dentes, mantendo os lábios fechados quando estava em público. Vinha daí o sorriso enigmático das inúmeras fotos para as quais posou já adulto.

 Antes de completar 17 anos, Chet alistou-se no exército, assumindo a estante e primeiro trompete na banda do exército.

 Dois anos mais tarde, em 1948, se desligou do serviço militar, convertendo sua atenção à modernidade do bebop. Seus ídolos eram fats Navarro, Red Rodney e principalmente, Miles Davis. Como os trabalhos para civis eram escassos naquele período, acabou voltando para o exército em 1950. Tocava o dia inteiro com a banda do exército, e nas madrugadas frequentava os clubes de jazz. Após um ano, já não aguentando mais a disciplina militar, tentou cair fora, mas se deu mal: como castigo, foi transferido para a fronteira do México. Alguns meses depois, sem perspectivas, desertou.
 Mudou para o sul da Califórnia com sua primeira mulher, sem boas oportunidades de emprego, em abril de 1952, um telegrama mudou sua vida. O grande ídolo do bebop, Charlie "Bird" Parker estava em Los Angeles a procura de um trompetista para acompanhá-lo em uma temporada de shows pela região.
 Chet conseguiu o emprego, mais tarde, apesar de suas limitações, sendo apontado por Parker como um músico "puro e simples". Da noite para o dia, se tornou uma nova referência na cena do jazz.
 

fonte                                                                                  
Coleção Folha Clássicos do Jazz, volume 7.

domingo, 30 de agosto de 2020

Influência ou Coincidência?

 Esta postagem não tem o interesse de comparar grandes nomes da música.
 O objetivo é apontar a importância de ouvir todo tipo de música.
 Quando abrimos nossos ouvidos para diversos gêneros, estilos, compositores, períodos, etc, enquanto descobrimos culturas diferentes, estamos construindo e ampliando paralelamente nosso "vocabulário" musical.
 Nos vídeos que seguirão, vale a pena nos atentarmos para algumas semelhanças existentes nas músicas de Tom Jobim e dos outros compositores citados.
 Mas antes de ouvirmos, vamos conhecer um singelo trecho da história de cada um.


 Frédéric François
Chopin (1810 à 1849). Conhecido como um dos maiores compositores para piano, além de um dos mais importantes pianistas da história da música. Com técnica refinada e elaboração harmônica relevante, continua exercendo grande influência na atualidade.


 Claude-Achille Debussy (1862 à 1918). Com obra bastante diversificada do ponto de vista de gêneros e formas que utilizou, sua obra pode ser dividida em música para orquestra, música de câmara e para instrumentos solo, música para piano, canções e música coral, obras cênicas e música incidental. Uma música inovadora que fomentou diversos movimentos musicais e compositores como Heitor Villa-Lobos, Béla Bartok, entre outros.


  Antonio Carlos Jobim (1927 à 1994). Compositor, maestro, arranjador, pianista, e violonista. Um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores do movimento da bossa nova. Durante seus estudos musicais, foi aluno do introdutor do dodecafonismo no Brasil, o professor Hans-Joachim Koellreutter.   


Jobim x Chopin


Prelúdio nº 4 em Mi Menor, Opus 28 - F. Chopin
"por pedido de Chopin, essa peça foi tocada em seu funeral"


Insensatez (How Insensitive) - T. Jobim


Jobim x Debussy


Rêverie - Debussy


Chovendo na Roseira - T. Jobim



fontes                                                            

segunda-feira, 13 de julho de 2020

July 13th, Brazilian Rock Day

   Apesar de chamar "Dia Mundial do Rock", a data é comemorada apenas no Brasil.

 Em meados de 1990, duas rádios expoentes no gênero começaram a mencionar a data em sua programação. A celebração foi amplamente aceita pelos ouvintes, e após alguns anos se popularizou em todo o país.

   As rádios eram a 89 FM e 97 FM, ambas focadas na difusão do rock.

   O dia 13 de julho foi escolhida em homenagem ao Live Aid, evento ocorrido nesta mesma data em 1985. O objetivo principal do megaevento foi erradicar a fome na Etiópia, e abrir os olhos do mundo para a miséria vivida no continente africano.

   A celebração "dia mundial do rock" é uma referência a um desejo expressado por Phil Collins, participante do evento.



   Para celebrar o "Dia do Rock" no Brasil, nada melhor que Sultains of Swing (Dire Straits), 
canção que atravessa gerações.



fonte                                           
Wikipedia

domingo, 31 de maio de 2020

Pânico no Palco - Maria João Pires




  Como diria a poesia do Milton Nascimento:
 "Maria Maria é um dom
 uma certa magia
 uma força que nos alerta"

 Não poderia deixar de compartilhar o inspirador momento vivido por esta mulher.
 Espero que nos sirva como um exemplo de concentração, de experiência, e muito equilíbrio emocional para vencer circunstâncias adversas.

  Imagine uma situação em que você, um respeitado palestrante, elaborou uma excelente conferência, para um determinado público.

 Tudo planejado, estudado, ensaiado com slides, vídeos, etc. Você sabe que essa apresentação, será extremamente importante para o reconhecimento e consolidação da sua carreira, e algum erro ou vacilo poderá abalar sua reputação.

 Dia e horário marcado, platéia cheia, todos em seus lugares, aguardando ansiosamente sua chegada e o ascender das luzes para ouvirem o que tem a dizer.

 Você, com um grande nome no mercado, chega nos bastidores e se prepara para entrar. Anunciam teu nome, você sobe as escadas, se concentra, a cortina do palco se abre, todos os aplaudem fervorosamente até que inicie seus dizeres. Quando a plateia aos poucos vai se acalmando, chega um homem ao seu lado e diz:

 - Sinto muito, mas não será possível transmitir seus slides, fotos, vídeos por problemas técnicos. Infelizmente, sequer o microfone está funcionando. Não entendo o que houve, desculpe. Você quer continuar?

 Desesperador não?
 E agora, o que fazer?
 Desistir? É uma oportunidade única!!!
 Corro o risco? 

 Pois bem, uma situação parecida ocorreu com a pianista portuguesa Maria João Alexandre Barbosa Pires.

 Aos cinco anos, deu seu primeiro recital. Aos sete, tocou publicamente concertos de Mozart. Com nove, recebeu o prêmio da juventude portuguesa. Maria estudou muito por anos. Uma vida dedicada ao piano e a música.

 Com apenas 26 anos torna-se reconhecida internacionalmente ao vencer o concurso internacional do bicentenário de Beethoven.

 Durante sua carreira, interpretou obras de Bach, Schumann, Schubert, Chopin, Brahms, Mozart, entre inúmeros outros compositores.

 Entre inúmeros feitos durante sua vida e carreira musical, foi distinguida em setembro de 2015 com um dos mais importantes prêmios no mundo, o Óscar da música clássica.

  Num concerto com a orquestra Amsterdam Concertgebouw, a famosa pianista foi surpreendida ao perceber que a partitura a sua frente, era diferente da que havia ensaiado.

 No vídeo, percebemos que algo está errado quando Maria e maestro dialogam enquanto a orquestra toca. O maestro está tentando ajudar a musicista. Logo em seguida, num ato de pânico, Maria leva sua mão ao rosto. Percebemos o desespero por não saber como começar a tocar, pois um concerto exige muita preparação e concentração dos músicos.

 E agora? O que fazer?


 A surpresa acontece! Uma mistura de equilíbrio emocional, experiência, memória, e principalmente coragem, faz com que Maria João repouse seus dedos sobre as teclas e siga em frente, fugindo do cronograma, enfrentando surpreendentemente aquela situação inesperada. 
 Executa a peça inteira de memória, sem nenhum erro.   




quarta-feira, 29 de abril de 2020

Do Piano para o Carnaval

Pianeira Pioneira


 Não existia compositor de música de carnaval. Foi Chiquinha Gonzaga quem, aliada a outros criadores de música popular, lançou a novidade em 1899 com Ô Abre Alas, hino do reinado de Momo.
 Sempre que pensamos em carnaval, uma trilha sonora passeia pela nossa imaginação ou lembrança, quase sem querer. Entre marchas, sambas ou frevos, dificilmente deixa de surgir na memória a letra de uma canção centenária, composta por uma mulher rebelde, à frente do seu tempo: Ô abre alas, que eu quero passar.
 Por volta de 1899, Chiquinha morava no Andaraí, subúrbio do Rio de Janeiro. Foliões se concentravam no bairro, ponto de encontro de cordões. Um deles, o Rosa de Ouro, pediu-lhe uma música para enriquecer a festa. A compositora foi ao piano e, inspirada nos próprios ensaios de cordão, criou "Ô Abre Alas", nossa primeira música composta para o carnaval. Até ali, nenhum compositor havia pensado nisso. O que havia eram estribilhos populares, sem melodia elaborada, cantados nos dias de folia. A marcha fez tanto sucesso, que Chiquinha incluiu-a num espetáculo de teatro de revista, sendo pioneira também em levar para o salão o que era da rua.
 Ô Abre Alas ainda hoje se toca e se canta na abertura ou no fechamento dos bailes de carnaval.


Falou Carnaval, Falou Samba


 Ele não nasceu carnavalesco. Nossa festa mais famosa, que marca extra-oficialmente o início do ano, sempre rolou ao som de vários ritmos. Mas quem virou sinônimo de carnaval foi ele, o samba.
Carnaval; Di Cavalcanti
 Calendários varia conforme países e culturas. No Brasil, é comum dizer que o ano só começa depois do carnaval. Não deixa de ser forma original de marcar o tempo, como se o país parasse para finalmente recomeçar a vida. Franceses para no aniversário da tomada Bastilha na Revolução de 1789 (14 de Julho); nós paramos durante o reinado de Momo. Nosso jeito de ser.
 Hoje carnaval é samba em boa parte do país. Mas, como continua acontecendo em Olinda ou Recife, nos primeiros anos do século 20 os gêneros eram bem variados. Depois, o ritmo que os cariocas consagraram espalhou-se Brasil afora e só não tomou conta do carnaval pernambucano, baiano e de alguns lugares do interior.


Marcha, Ópera, Chula e Lundu


Carro alegórico com a Lira do Sapho,
do Clube dos Fenianos, 1913
 No início do século 20, no Rio de Janeiro, a festa se dividia entre o carnaval de elite e o carnaval "do povo". No primeiro havia corsos e desfiles das sociedades carnavalescas, com carros alegóricos e bandas que tocavam marchas e até trechos de ópera. No popular, predominavam blocos, cordões e ranchos, onde se ouviam chulas e lundus.

 As sociedades carnavalescas surgiram na metade do século 19, formadas por brancos da classe média e aristocratas que se reuniam para discutir negócio, jogar cartas, beber e organizar o carnaval.

 O corso era coisa das elites. Famílias e amigos saíam em desfile com seus carros, fantasiados de pierrôs, colombinas ou marinheiros, travando batalhas de confete e serpentina. Muitas vezes se faziam acompanhar de bandas que tocavam marchas.




Maxixe é Outra Coisa


Ismael Silva
 "A gente precisava de um samba para movimentar os braços para a frente e para trás [...], um samba para sambar." 

A afirmação de Ismael Silva, fundador da primeira escola de samba, a "Deixa Falar", em 1928, explica a primeira mudança rítmica do gênero. Até a década de 1920, sambas de sucesso eram parecidos com maxixe. O primeiro samba "moderno" foi A Malandragem, composto por Bide e gravado por Francisco Alves em 1927. A Deixa Falar era vizinha de uma escola normal que formava professores para a rede escolar. Ismael chamou seu bloco de Escola de Samba, já que formaria professores de samba.


Novo Rítmo faz Escola


O Macaco é Outro
 Fixado como principal ritmo do carnaval do Rio, ao lado das marchinhas, o samba espalhou escolas no final dos anos 1920. Depois da Deixa Falar, as mais famosas e tradicionais, Mangueira e Portela, surgiram da união de grupos e blocos do morro da Mangueira e do subúrbio de Madureira, que queriam se divertir com samba. Na era do rádio, a partir dos anos 1930, e como disco,  ritmo se espalharia pelo Brasil, predominando como gênero de carnaval.
 Gente humilde tinha seu jeito de brincar. Tia Ciata, líder da comunidade baiana no Rio de Janeiro, no início do século 20, uma das responsáveis pela difusão do samba, criou O Macaco é Outro, rancho de operários  descendentes de escravos.



O Melhor do Almanaque Brasil de Cultura Popular;

domingo, 29 de março de 2020

Celebrando Cem, Sem Pressa!!

   Anos atrás quando decidi iniciar os escritos neste blog, compartilhando histórias relacionadas à música, não imaginava que elas seriam vistas e lidas por tanta gente do planeta. Ainda mais, numa época em que a leitura pode ser facilmente substituída por um equipamento eletrônico.

   Através dos acessos e feedbacks, de emails que recebo, entre outros, percebo que essas postagens se propagaram para além dos paralelos e meridianos, me aproximando de pessoas do outro lado planeta, de povos com culturas bem diferentes, de países cuja existência desconhecia.

   Povos com visões diferentes de mundo, de vida, de costumes, de hábitos, de crenças, etc. Mas, independentemente da totalidade e intensidade das diferenças, o amor pela música é o mesmo. É o poder da música estreitando fronteiras.

   Neste março de 2020, apesar da pandemia de coronavírus afetar toda rotina mundial, estou bastante feliz, pois, preciso agradecer e comemorar as cem mil visualizações atingidas pelos escritos compartilhados aqui neste simples espaço de amor à música.

   Obrigado povo que acessou, pessoas que tem acessado, e sejam bem vindos novos leitores!!!

   Afeganistão - África do Sul - Alemanha - Angola - Arábia Saudita - Argentina - Austrália - Áustria -

  - Bangladesh - Bahrein - Bélgica - Bolívia - Bulgária -

- Cabo Verde -  Camboja -  Canadá -  Chile - Cingapura - Colômbia - República Democrática do Congo -

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      - Finlândia - França - Georgia - Grécia - Holanda - Honduras - Hong Kong - Hungria -

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 - Quênia - Reino Unido - Romênia - Russia - Sérvia - Singapura - Suécia - Suíça -



 - Taiwan - Tailândia - Tchéquia - Timor-Leste - Turcomenistão - Ucrânia - Venezuela - Vietnã -




fontes                                                              
Google Analytics;

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Da Bossa ao Fim dos Festivais

   De 1958, com o surgimento da bossa nova, até 1972, fim da era dos festivais, a música brasileira passou por uma fase de renovação e modernização, introduzindo estilos de composições, harmonias e interpretações, determinando uma apreciável linha evolutiva de canções.
   A presença da numerosa e talentosa geração de artistas, pode ser dividida em duas vertentes. A primeira turma é a da bossa nova: o pianista, compositor e arranjador Antonio Carlos Jobim. Junto a ele, o poeta Vinícius de Moraes, e o cantor-violonista João Gilberto, além de uma leva de artistas como: João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal, etc. Cita-se Dick Farney, Johnny Alf, Agostinho dos Santos, Lúcio Alves e o conjunto Os Cariocas, como sendo os líderes deste movimento, vindos de um período anterior.

   No fim de 1962, a fase de maior evidência do estilo começa a declinar, bem quando aconteceu o espetáculo "Encontro" e o legendário show no Carnegie Hall de Nova York. 

   Mesmo passando por tudo isso, a bossa nova já havia aberto as portas do sucesso à geração que estava chegando, e que entram em cena a partir de 1964, tão talentosos quanto os anteriores, realizando à sua maneira a continuação do movimento bossanovista.
   Os componentes de maior destaque desta geração são: Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Gal Costa, e grande número de letristas, músicos e compositores. 

Grandes instrumentistas como Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Maurício Einhorn, César Camargo Mariano, etc, também fizeram parte desse período sofisticado da música. No fim deste período ainda surgiram nomes como Ivan Lins, João Bosco, Paulo Cesar Pinheiro, etc.
  Nos próximos oito anos, esses artistas praticamente monopolizaram as principais colocações nos festivais de televisão que, além de lhes proporcionar a oportunidade de se tornarem conhecidos no momento em que se iniciavam profissionalmente, foram de inestimável ajuda para a consolidação de suas carreiras.

   De 1967/68, componentes da ala baiana dessa geração, os líderes Gilberto Gil e Caetano Veloso, arrastaram junto, Tom Zé, Capinan, Torquato Neto para lançar a Tropicália ou tropicalismo, um movimento poético-musical de vanguarda que, mesmo sendo de duração efêmera, causou grande agitação cultural e exerceu influência na obra de vários compositores como Arrigo Barnabé e Eduardo Dusek.

   No setor do samba houve um movimento de revalorização, resultante de reuniões  de sambistas iniciadas no restaurante Zicartola e desdobradas em bem sucedidos espetáculos. Desses empreendimentos resultou o aparecimento de uma valorosa geração de compositores legados a escolas de samba, além do reconhecimento, embora tardio, dos mestres Cartola e Nelson Cavaquinho. Pertencem a essa geração nomes como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Candeia, Zé Keti (vindo da década anterior) e Martinho da Vila. Nessa área, nota-se também a partideira Clementina de Jesus, e as cantoras Elza soares, Beth Carvalho e Clara Nunes.


   Bom lembrar que, paralelamente ao início da bossa nova, registrou-se também um tipo de composição conhecida como sambalanço ou samba moderno (meio termo entre bossa e o samba tradicional), cantado e cultivado por Milton Santos de Almeida, Dóris Monteiro, Luís Bandeira, Luis Antonio, Luís Reis e o baterista Jadir de Castro, que criou uma variante do gênero chamada samba fantástico.

   Ao mesmo tempo em que esses fatos revolucionavam a MPB, aconteceu na área da música pop o crescimento do rock, também conhecida como iê-iê-iê, o que originaria o fenômeno Jovem Guarda. Popularizado a partir do final da década de 1950, pelos pioneiros Sérgio Murilo, Tony e Celly Campello, entre outros, o prestígio do iê-iê-iê atingiu o auge de 1965 à 1967.

   Outra vertente do pop nacional, mais próxima do rock inglês, seria apresentada pelo conjunto Os Mutantes, formado pelos irmãos Sergio Baptista, Arnaldo Baptista além de Rita Lee. No fim deste período surgiram os soul men Tim Maia e Luiz Melodia.

   O período de 1958 à 1972 assistiu ainda ao final da canção carnavalesca tradicional. Conforme os custos de produção fonográfica aumentavam, as gravadoras foram se desinteressando por estas produções. A marchinha e o samba de carnaval praticamente desapareceram durante os anos 1960, substituídos pelo samba-enredo.

   Um segmento que ganhou forte impulso, tornando-se uma das maiores fontes de lucro das gravadoras, foi o da canção sentimental popularesca, conhecida também como brega-romântico. Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Altemar Dutra, entre outros, são alguns exemplos desse gênero.

   Em 1972, com o final do grande ciclo de festivais musicais da televisão, pode-se considerar encerrada esta fase de nossa música popular, a mais importante do século XX, ao lado da chamada Época de Ouro (de 1929 a 1945).
   Anteriormente a 1950, algumas canções rodaram o mundo, como: Aquarela do Brasil, Tico Tico no Fubá, etc. Porém, a música popular brasileira conquistou a admiração e o respeito de todo o mundo através da geração consagrada nos anos 1960, por sua criatividade e acabamento profissional.



fonte                                                               
A Canção no Tempo - 85 anos de músicas brasileiras vol. 2: 1958-1985 (Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello);

domingo, 19 de janeiro de 2020

O Diabo na Música

As Notas Malditas que Habitavam a Terra


   Condenado pelos padres e evitado por séculos, o intervalo musical do mal hoje está em todo o lugar. 
   Como a filosofia e a ciência, na Idade Média, a música erudita, sofisticada, estava nas mãos da igreja.
   Para os monges, os sons deveriam ser angelicais e comoventes, conhecidos como consonantes. Certa sequência de notas, oposta aos sons angelicais, são os chamados dissonantes, que antigamente, eram associados ao Diabo, pelo mesmo ser considerado uma versão deturpada e invertida de Deus.

   Essa combinação terminaria batizada (já bem depois da Idade Média) de Diabolus in Musica (Diabo na Música), também conhecido como trítono. 
   O trítono é um intervalo de três tons inteiros entre duas notas. Usamos como exemplo, a combinação entre as notas Fa e Si, que, quando quando executadas, resulta em uma combinação musical que a maioria das pessoas percebe como perturbadora, tensa, macabra. Escute!!!



Chrétien de Troyes
Hildegarda de Bingen
   Ainda que os músicos adorem repetir a história, trítonos nunca foram banidos pela igreja, muito menos que alguém tenha ido para a fogueira por isso. Ou não há qualquer evidência disso. 

   O que há é gente como o monge e compositor Guido de Arezzo que, ao desenvolver seus hexacordes, recomendou evitar o trítono. Alguns deles como a monja Hildegarda de Bingen e o trovador francês Chrétien de Troyes foram repreendidos ao usá-los pois deveriam seguir as regras de composição impostas pela igreja.

   Inclusive o registro mais antigo do trítono está em Ordo Virtutum, composição da freira Santa Hildegarda de Bingen, composta por volta de 1151. O intervalo aparece, adequadamente, nas partes relacionadas ao Diabo, pois é uma peça falando sobre a redenção da alma contra ele. E soa, de fato, bem sinistro. Repare a mudança de sensação no minuto 2:00 do vídeo a seguir.





Bob Ezrin
   Provavelmente Santa Hildegarda é a razão pela qual o trítono passou a ser relacionado ao Diabo. "Aparentemente era o som usado para chamar a besta.

   Há algo muito sexual no trítono. Na Idade Média, as pessoas eram ignorantes e assustadas, então quando ouviam algo assim e sentiam a reação em seus corpos, pensavam: "ah, aí vem o diabo", diz Bob Ezrin, produtor musical canadense em entrevista à BBC. 
Papa João XXII


   O que chegou a ser banido - e só dentro da igreja - é outra coisa: a polifonia, o uso de mais de uma melodia na mesma música. Isso era comum na música secular medieval, mas não em música sacra, como o canto gregoriano. 
   Foi proibida pelo papa João XXII em 1322, que achava o estilo vulgar, mas a proibição logo seria ignorada.

Andreas Werckmeister


Franz Liszt
   O nome Diabolus em Música aparece só em 1702, mencionado pelo compositor alemão Andreas Werckmeister, dando entender que era um termo bem antigo.
   Ele condenava seu uso e, então, era uma gafe inaceitável para um compositor colocar um trítono na música.


   O tabu seria quebrado com a música romântica do século 19, que abusava de temas sombrios. Como na Sonata de Dante, de Franz Liszt.



Danny Elfman
   Desde então, o trítono está presente em número incontável de canções. 
   Na trilha de abertura do The Simpsons, composta por Danny Elfman, por exemplo. Escutamos o trítono no primeiro segundo, tocado pelos fagotes. O intervalo aparece inúmeras vezes durante a canção. Podemos ouví-lo também no minuto 1:38, executado pelos metais.


   A banda icônica Black Sabbath também aproveitou do efeito desconfortável causado pelo trítono. Podemos ouvir o intervalo logo na introdução da canção Black Sabbath.





fontes                                                      :
publicação de Thiago Lincolins em HA - Aventuras na História (UOL);