domingo, 30 de setembro de 2018

Três Curtas para Curtir

 Jogaram tanto confete no entrudo, que ele ficou civilizado


   Bastava chegar o carnaval, lá estavam os limões de cheiro, bisnagas d´água, farinha, tinta, quando não baciadas de excrementos e outras agressões. Entrudo, brincadeira de rua, conhecida desde a chegada dos portugueses, era atividade violenta.
Entrudo, ilustração de Debret.
   Escravos descontavam as diferenças nos senhores; e senhores ficavam nas sacadas sujando quem passasse embaixo. Não escapava ninguém, até o imperador Pedro I brincava em casa, é claro.
   Jornais faziam campanhas pela pacificação da festa, até que, em 14 de fevereiro de 1857, no Rio, O Jornal publica a primeira censura ao entrudo. 
   Delegado de polícia da corte, Antônio Rodrigues proíbe a brincadeira sob pena de oito dias de cadeia e multa de 4 a 12 mil-réis.
   Não adiantou. Quando chegava o sábado de carnaval, a população não via a hora de ir para a rua se esbaldar, zombando até a Quarta-Feira de cinzas.
   Ao longo do tempo, confete, serpentina e lança-perfume abaram civilizando o entrudo.


Rouxinol do Brasil


   Num tempo em que mulher só cuidava da casa e dos filhos, Balduína de Oliveira Sayão - Bidu, como ficou célebre - deixou o amparo da família para tentar carreira de cantora lírica. Foi e venceu.
Bidu Sayão
   Nascida a 11 de maio de 1902, queria ser atriz. Impedida pela família, estudou canto. 
   Sua estréia não foi bem recebida: "Não tem voz para salões, quando muito para salinhas", comentaria, impiedoso, o crítico Oscar Guanabarino. A voz "pequena" não a intimidou.
   Estudou na Romênia e na França. Aprendeu a usar a voz; seu canto surpreendia pela clareza e pureza. Chamada "rouxinol" por Mário de Andrade, tornou-se a personalidade brasileira de maior projeção no canto lírico internacional.
   Apresentou-se nas maiores casas da Europa e, nos Estados Unidos, integrou o elenco do Metropolitan de Nova York até aposentar-se, em 1957.
   Às novas cantoras, aconselhava: "A voz é um instrumento de precisão, do qual não se deve abusar. Se estraga, não há conserto.
   Em 1995, foi enredo da Beija-Flor e musa do carnaval carioca, desfilando na Marquês de Sapucaí. Morreu a 12 de março de 1999, com quase 97 anos.


O samba que chegou a Marte


Jacqueline Lyra

   Em 12 de julho de 1997, o samba Coisinha do Pai, na voz de Beth Carvalho, chega a Marte para "acordar" o robô da sonda espacial Sojouner, da Nasa.
   A engenheira brasileira Jacqueline Lyra, que trabalhava no projeto, tinha a tarefa de acioná-lo por meio de som.
robô da Sojouner
   Assim costumava acordar os astronautas, com clássicos de Frank Sinatra, Pink Floyd, Ray Charles, Bob Marley. Mas Coisinha do Pai, um de seus sambas preferidos, mataria a saudade do Brasil e demonstraria o carinho dos cientistas da Nasa pelo robô.
   A composição de Jorge Aragão, Luis Carlos e Almir Guineto jamais tinha sido ouvida tão longe.
   Você sabia que o episódio do samba que foi a Marte virou filme?
   O curta Os Outros, de Fernando Mozart, narra relatório de que se encarrega um pesquisador marciano que vem ao Brasil querendo saber o que é a tal "coisinha do pai".




Fonte                     
O Melhor do Almanaque Brasil de Cultura Popular - Edição especial do professor;