sexta-feira, 28 de junho de 2019

Princípios do Jazz no Brasil

Paul Whiteman Orquestra
   O jazz difundiu-se no mundo só depois da Primeira Grande Guerra e bem mais tarde no Brasil, por intermédio de alguns dos músicos que tinham ido atuar na Europa, de 1924 em diante, entre eles Gabriel, grande admirador de Armstrong e mestre na surdina, e Machado, no sax-tenor.
   Foi porém, só durante a Segunda Guerra Mundial, já no fim da era swing, que apareceram no Brasil músicos em quantidade apreciável. Esses nunca tiveram contato com o jazz de Nova Orleans ou dixieland e são, portanto, admiradores dos estilos modernos.

Mistinguett
   A música de dança norte-americana, os então chamados fox-trots, começou a ser tocada no Brasil por volta de 1920, e foi o conjunto de Harry Kosarin, procedente de Buenos Aires, provavelmente o primeiro que introduziu esta novidade dançante entre nós. Com ele, vinham Raul Lipoff (violinista) e Pingatore (banjoísta) irmão do célebre Mike Pingatore, da orquestra de Paul Whiteman. Foi também nessa orquestra que pela primeira vez se introduziu entre nós o uso da bateria tipo americana com pedal no surdo mestre. Até então, os nossos músicos usavam somente a caixa, sem tripé, amarrada por uma corda a uma cadeira.
   Alguns meses mais tarde, esses músicos separaram-se do baterista americano Kosarin. Pingatore voltou para a América e Raul Lipoff organizou orquestra própria. Esse último, aproveitando a estada aqui de uma orquestra de salão, chegada ao Rio procedente do Egito, e que atuava na sala de espera do Cinema Central, conseguiu dissolvê-la, organizando um novo conjunto com alguns de seus elementos, indo atuar então no Palace club com: Kolman (sax e oboé), Abdon Lyra (trombone), e finalmente Simon Boutman (violinista), que mais tarde organizou numerosas orquestras e que, durante muitos anos, tocou no Copacabana Palace.
Os Oito Batutas
   Quando, em 1922, Mistinguett, com sua companhia Ba-Ta-Clan, chegou ao Rio para atuar no Teatro Lírico, trouxe consigo uma orquestra de negros americanos, cujo chefe era o baterista Gordon Straight. Essa orquestra ficou aqui depois que Mistinguett terminou sua temporada, tendo tocado  durante algum tempo no Cassino Assírio.
   No mesmo local tocou a orquestra americana do violinista colored Don Abbey, vinda da Argentina. No Brasil também tocou Sam Wooding, em 1927, cuja orquestra contava, na ocasião, com Eugene Sedric, Albert Wynn, Willie Lewis, Ralph James, Freddie Johnson, entre outros. Esta orquestra esteve no Rio somente em trânsito, infelizmente.
   O primeiro conjunto brasileiro que viajou à Europa foi Os Oito Batutas, com Donga e Pixinguinha, estreando no Scherazade, onde também atuavam os bailarinos Duque e Gaby, introdutores do maxixe no continente europeu. O conjunto, que tocava música tipicamente brasileira, não se exibiu com números que não fossem maxixes, polcas, sambas, etc.
Maestro Fon-Fon
   Em 1939 e 1940, a orquestra de Romeu Silva foi para os Estados Unidos atuar na Feira Mundial de Nova York. No fim da década 1940/50, também excursionou pela Europa a orquestra do maestro Fon-Fon, figura tradicional nos meios musicais cariocas, que infelizmente faleceu quando a orquestra atuava na Grécia.
   Entre os músicos americanos que nos visitaram, citaremos Frank Big Boy Goodie (sax-tenor), e o trio Bud Freeman (sax), Joe Bushkin (piano), Herb Ward (baixo), que tocaram no Midnight do Copacabana Palace, em 1947.
   Tivemos em 1938 a orquestra do maestro colored Baron Lee, no cassino da Urca. Desta orquestra fazia parte o trompetista Al Lillian, que tocou depois com Count Basie. Também várias orquestras de dança aqui vieram, entre elas as de Eddy Duchin e Tommy Dorsey, tendo, no entanto, visitado o Brasil em 1956 e 1957 dois grandes expoentes do jazz, que foram Dizzy Gillespie (com uma big band) e Louis Armstrong (que se exibiu no Municipal com seus All Stars). Tivemos, também, a visita da orquestra de Woody Herman, que trouxe entre seus músicos o contrabaixista Major Holley.
D. Caymmi, J. Kubitscheck, Pixinguinha e L. Armstrong
   Entre os que se radicaram no Brasil, tivemos Claud Austin (pianista), Louis Cole (cantor), e Booker Pittman (sax-alto). Este último andou desaparecido por muito tempo, trabalhando numa fazendo em Londrina, Paraná, mas que voltou às atividades, tocando no Rio. Booker é um dos melhores representantes do chamado mainstream jazz, possuidor de intenso swing, sonoridade muito hot que o assemelha a Johnny Hodges, Willie Smith, Tab Smith, Charlie Holmes e outros grandes da era swing.
   Os músicos brasileiros que se dedicam ao jazz, tendo como predileção as escolas modernas, são:
   Contrabaixistas: Vidal, os irmãos Jorge e Luiz Marinho, Luizinho, Chou e Luis Chaves.
   Pianistas: Donato, Moacyr Peixoto, Dick Farney, Centopéia, Fats Elpidio, Paulinho, Luizinho Eça, etc.
   Bateristas: Pualinho, Dom Um, Sut, Sutinho, Plínio Araújo, Hildefredo, Milton Banana, Ribinho, Pituca, Maurício.
   Guitarristas: Laurindo de almeida (radicado nos EUA), Nestor, Dinarte, Geraldo Miranda, Ismael, Paulinho.
   Trombonistas: Norato, Raulzinho, Astor, Manoel Araújo, Maciel, Nelsinho, Donato.
   Trompetistas: Julio Barbosa, Clélio Ribeiro, Sombra, alex Formiga, Wagner, santos, Maurílio. Barriquinha, Djalminha, Araken.
   Clarinetistas: K-simbinho, Paulo Moura, Zacarias, Copinha.
   Saxofonistas-alto: Casé, Paulo Moura, Arcy, Jorginho, Bauru.
   Saxofonistas-tenor: Helio Marinho, Cipó, Darcy, Luizinho, Zé bodega, Bolão, Juarez, Walter rosa, Luiz Bezerra.
   Saxofonistas-barítono: Aurino.
   Há também alguns músicos estrangeiros que se integraram no ambiente, como o pianista Chaim Lewak, o baterista Hugo Lander e o pianista Allan Gordon.
   Entre os amadores, encontramos conjuntos como o Paulistanea e o Petropolitano, que tocavam jazz tradicional, e jovens apreciadores do jazz moderno, como Bill Horne (flauta, trompete, melofone), os irmãos Mário, Antônio e Oscar Castro Neves, e Osvaldo de O. Castro e Vitor Manga, bateristas, entre outros.



fonte                                                      
Jazz Panorama (Jorge Guinle)