terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Da Bossa ao Fim dos Festivais

   De 1958, com o surgimento da bossa nova, até 1972, fim da era dos festivais, a música brasileira passou por uma fase de renovação e modernização, introduzindo estilos de composições, harmonias e interpretações, determinando uma apreciável linha evolutiva de canções.
   A presença da numerosa e talentosa geração de artistas, pode ser dividida em duas vertentes. A primeira turma é a da bossa nova: o pianista, compositor e arranjador Antonio Carlos Jobim. Junto a ele, o poeta Vinícius de Moraes, e o cantor-violonista João Gilberto, além de uma leva de artistas como: João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal, etc. Cita-se Dick Farney, Johnny Alf, Agostinho dos Santos, Lúcio Alves e o conjunto Os Cariocas, como sendo os líderes deste movimento, vindos de um período anterior.

   No fim de 1962, a fase de maior evidência do estilo começa a declinar, bem quando aconteceu o espetáculo "Encontro" e o legendário show no Carnegie Hall de Nova York. 

   Mesmo passando por tudo isso, a bossa nova já havia aberto as portas do sucesso à geração que estava chegando, e que entram em cena a partir de 1964, tão talentosos quanto os anteriores, realizando à sua maneira a continuação do movimento bossanovista.
   Os componentes de maior destaque desta geração são: Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Gal Costa, e grande número de letristas, músicos e compositores. 

Grandes instrumentistas como Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Maurício Einhorn, César Camargo Mariano, etc, também fizeram parte desse período sofisticado da música. No fim deste período ainda surgiram nomes como Ivan Lins, João Bosco, Paulo Cesar Pinheiro, etc.
  Nos próximos oito anos, esses artistas praticamente monopolizaram as principais colocações nos festivais de televisão que, além de lhes proporcionar a oportunidade de se tornarem conhecidos no momento em que se iniciavam profissionalmente, foram de inestimável ajuda para a consolidação de suas carreiras.

   De 1967/68, componentes da ala baiana dessa geração, os líderes Gilberto Gil e Caetano Veloso, arrastaram junto, Tom Zé, Capinan, Torquato Neto para lançar a Tropicália ou tropicalismo, um movimento poético-musical de vanguarda que, mesmo sendo de duração efêmera, causou grande agitação cultural e exerceu influência na obra de vários compositores como Arrigo Barnabé e Eduardo Dusek.

   No setor do samba houve um movimento de revalorização, resultante de reuniões  de sambistas iniciadas no restaurante Zicartola e desdobradas em bem sucedidos espetáculos. Desses empreendimentos resultou o aparecimento de uma valorosa geração de compositores legados a escolas de samba, além do reconhecimento, embora tardio, dos mestres Cartola e Nelson Cavaquinho. Pertencem a essa geração nomes como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Candeia, Zé Keti (vindo da década anterior) e Martinho da Vila. Nessa área, nota-se também a partideira Clementina de Jesus, e as cantoras Elza soares, Beth Carvalho e Clara Nunes.


   Bom lembrar que, paralelamente ao início da bossa nova, registrou-se também um tipo de composição conhecida como sambalanço ou samba moderno (meio termo entre bossa e o samba tradicional), cantado e cultivado por Milton Santos de Almeida, Dóris Monteiro, Luís Bandeira, Luis Antonio, Luís Reis e o baterista Jadir de Castro, que criou uma variante do gênero chamada samba fantástico.

   Ao mesmo tempo em que esses fatos revolucionavam a MPB, aconteceu na área da música pop o crescimento do rock, também conhecida como iê-iê-iê, o que originaria o fenômeno Jovem Guarda. Popularizado a partir do final da década de 1950, pelos pioneiros Sérgio Murilo, Tony e Celly Campello, entre outros, o prestígio do iê-iê-iê atingiu o auge de 1965 à 1967.

   Outra vertente do pop nacional, mais próxima do rock inglês, seria apresentada pelo conjunto Os Mutantes, formado pelos irmãos Sergio Baptista, Arnaldo Baptista além de Rita Lee. No fim deste período surgiram os soul men Tim Maia e Luiz Melodia.

   O período de 1958 à 1972 assistiu ainda ao final da canção carnavalesca tradicional. Conforme os custos de produção fonográfica aumentavam, as gravadoras foram se desinteressando por estas produções. A marchinha e o samba de carnaval praticamente desapareceram durante os anos 1960, substituídos pelo samba-enredo.

   Um segmento que ganhou forte impulso, tornando-se uma das maiores fontes de lucro das gravadoras, foi o da canção sentimental popularesca, conhecida também como brega-romântico. Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Altemar Dutra, entre outros, são alguns exemplos desse gênero.

   Em 1972, com o final do grande ciclo de festivais musicais da televisão, pode-se considerar encerrada esta fase de nossa música popular, a mais importante do século XX, ao lado da chamada Época de Ouro (de 1929 a 1945).
   Anteriormente a 1950, algumas canções rodaram o mundo, como: Aquarela do Brasil, Tico Tico no Fubá, etc. Porém, a música popular brasileira conquistou a admiração e o respeito de todo o mundo através da geração consagrada nos anos 1960, por sua criatividade e acabamento profissional.



fonte                                                               
A Canção no Tempo - 85 anos de músicas brasileiras vol. 2: 1958-1985 (Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello);