terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Alfredo da Rocha Viana Jr. (Pixinguinha)

   Creio que seja um absurdo falarmos sobre música brasileira sem citar Alfredo da Rocha Viana Jr. Portanto, aqui vai um pouco sobre ele.



   Em 23 de abril de 1898, nasce no Rio de Janeiro, no Bairro do Catumbi, mais precisamente na antiga rua da Floresta, n. 44, um dos 18 filhos de Alfredo da Rocha Viana e dona Raimunda Viana.
   Alfredo da Rocha Viana Jr. recebeu desde cedo o apelido de Pixinguinha, o qual explica-se de duas maneiras:
   a) viria de Pizin Din, "menino bom", tal como chamava sua avó, dona Edwiges;
   b) viria de bexiguinha, pois o compositor teve "bexiga" ou varíola na infância e que lhe marcou o rosto.
   Bem, o menino era uma verdadeira negação para o futebol, porém era muito bom no jogo de bola de gude além de fazer belíssimas pipas que davam inveja em seus amigos. O menino chegou até a ser sacristão no Mosteiro de São Bento.
   Com treze anos, Pixinguinha já arranhava o bombardino, e compôs sua primeira música: o choro "Lata de Leite".
   Aos quatorze anos, fêz sua estreia como músico profissional em uma casa de chope da Lapa, denominada "A Concha".
   Pouco tempo depois, enquanto empinava pipa, surgiu uma pessoa bem vestida a sua procura, convidando-o para tocar na orquestra do Teatro Rio Branco que era dirigida pelo célebre maestro Paulino do Sacramento. Pixinguinha ficou estarrecido. Ele fora indicado pelo violonista Artur do Nascimento (Tute) que apreciava muito sua flauta. O próprio Tute levou Pixinguinha (que ainda usava calças curtas) para conhecer o dono do Teatro, Auler. A apresentação deu-se da seguinte maneira:
   Tute: -Aqui está o flautista que lhe falei.
   Auler: -Isso! Flautista?! Mas isso não é homem, é criança! Após passado o espanto, disse: -Bem, leva ele para dentro.
   Quando Pixinguinha chegou à caixa do teatro e foi apresentado a Paulino do Sacramento como novo clarinetista, foi uma galhofa geral. Os músicos, bigodudos em sua maioria, riram até não poder mais do menino.
   No dia seguinte, o garoto compareceu no primeiro ensaio e saiu-se bem.
   "-Pegava tudo na antena" confessa Pixinguinha. "-Os nêgos estão virando a página e eu estou tocando tudo de cor".
   Pixinguinha também recebera de amigos e familiares o carinhoso apelido de "Carne Assada", pois certa vez foi surpreendido em uma festa na sua casa, comendo carne assada enquanto o pessoal dançava na sala em cima.
Pixinguinha e Louis Armstrong

   Em pouco tempo, Pixinguinha tornou-se um nome conhecido e respeitado entre os grandes chorões da época.
   Em 1915, com dezessete anos, começou a fazer suas primeiras orquestrações para cinemas, teatros, circos, etc. Nesse ano começa a gravar com o Grupo da Casa Faulhaber. Nos carnavais, saía com seu bloco "Os Sertanejos", onde tocavam Donga, João Pernambuco, etc.
    Em 1922 (24 anos) o gerente do Cine Palais chamou Pixinguinha e encarregou-o de formar uma orquestra para atuar na sala de espera. Assim nasceu o famoso conjunto "Oito Batutas". Ernesto Nazaré saia de seu emprego no cinema Odeon e ía apreciá-los, assim como Rui Barbosa que também era freguês dos Oito Batutas no Palais e que sempre pedia para tocarem "Bentevi". Os Oito Batutas então, embarcam para Paris.
   Com 25 anos, Pixinguinha escreve uma de suas obras-primas: o choro "Carinhoso", época em que começa a aparição das Jazz Bands.
   Em novembro de 1929 é fundada no Brasil a Victor Talking Machine Company of Brazil, e Pixinguinha é contratado com exclusividade. O virtuoso flautista compõe "Urubu Malandro" (motivo floclórico da cidade de Campos) , momento este que poderemos apreciar o ponto culminante da sua carreira como flautista, onde o músico ostentava um domínio técnico absoluto e um dom de improvisação geralmente só encontrado nos grandes músicos de jazz.
   Em 1932 (com 34 anos), Pixinguinha organiza o Grupo da Guarda Velha que estreia com o disco "Hu! Hu" La! Ho!". A Guarda Velha passa a acompanhar os grandes cantores da Vicor da época: Carmem Miranda, Mário Reis, etc.
   Pixinguinha, é claro, participou do início do rádio no Brasil, tendo atuado praticamente em todas as emissoras cariocas: Sociedade, Clube do Brasil, Philips, Cajuti, Transmissora, Cruzeiro do Sul, Mayrink Veiga, Nacional, Tupi, etc.
   Em 1937 apresenta-se na Mayrink Veiga com o conjunto "Cinco Companheiros".
   Em 1940 é apresentado por Villa Lobos ao famoso Leopold Stokowski  (maestro inglês) que visita o Brasil.
   Em 1946, com 48 anos, sentindo que suas mãos começavam a ficar trêmulas, trocou definitivamente a flauta pelo sax-tenor.

Vinicius e Pixinguinha
   Em 1954 (56 anos), Almirante organiza em São Paulo o 1.o Festival da Velha Guarda e reanima o velho grupo. Em 55, a Velha Guarda apresenta-se com extraordinário sucesso na boite Casablanca no show de Zilco Ribeiro.
   A 30 de maio de 1956, Pixinguinha é definitivamente consagrado pelo então prefeito Negrão de Lima que dá seu nome a rua Belarmino Barreto, em Olaria, onde residia o artista.
   No início de 57, forma uma orquestra que grava um série esplêndida de long-playings para a Sinter sob o nome Pixinguinha e sua Banda.
   Em 1962 é convidado para escrever o "score" musical do filme brasileiro "Sol Sobre a Lama", fato que determinou o nascimento de uma nova dupla: Pixinguinha e Vinicius de Morais.
   Alfredo da Rocha Viana Jr., instrumentista, compositor, orquestrador, chefe de orquestra (tudo de forma genial), falece em 1973, com 76 anos.
 
Panorama da Música Popular Brasileira (Ary Vasconcelos)

Nenhum comentário: