sábado, 19 de setembro de 2015

Maestro Antônio Carlos Gomes: imortalizado na arte, injustiçado na vida

   Em 1836, Campinas (SP) ainda era conhecida como São Carlos, distrito de Jundiaí.
   Neste mesmo ano nasceu Antonio Carlos Gomes (Tonico), oitavo filho do maestro José Manuel Gomes (Nhô Maneco Músico) e de dona Fabiana Maria Jaguari Cardoso, sua terceira esposa. Diga-se de passagem que o Maneco Músico já tinha doze filhos do segundo casamento.
   O pequeno Tonico cresceu em lar modesto materialmente, mas rico em arte. Recebeu seus primeiros ensinamentos musicais do severo pai.
   Em 1844, com oito anos de idade, ladrões entraram em sua casa para roubar-lhes um valioso violoncelo, e dona Fabiana lutando em defesa do raro instrumento foi mortalmente ferida.
   Órfão e assustado, seu destino mudou de rumo. Maneco, seu pai, casou-se novamente e teve mais seis filhos.
   Tonico entrou na escola pública, aprendeu o ofício de alfaiate, e nas noites, ele e alguns irmãos recebiam aulas de música do pai. Desde então, apegou-se muito por José Pedro (rabequista), seu irmão mais velho e predileto.
   Na juventude, Tonico ao piano e José Pedro no violino eram constantemente convidados para se apresentar nos saraus de Campinas e arredores, e como seus nomes já eram populares na região, os irmãos campineiros passaram a se apresentar nas residências de aristocrátas em São Paulo.
  A contragosto do pai, Carlos Gomes matriculou-se no Conservatório do Rio de Janeiro, na época dirigido por Francisco Manuel (autor do Hino Hacional). Seu sucesso chamou a atenção de Dom Pedro II, que o acolheu pessoalmente sob sua proteção e mais tarde, o enviou para estudar em Milão, centro da música na Itália. Duas operetas compostas por Tonico, arrancaram aplausos e elogios do exigente público italiano.
   Certo dia na Itália, um ambulante ofereceu a Carlos Gomes um libreto contendo a obra máxima de José de Alencar: "II Guarany - Romanzo Brasiliano". Inspirado nesta, o maestro deu vida a ópera "O Guarani", e novamente foi ovacionado pela platéia italiana, que delirou.

   Giuseppe Verdi, monstro sagrado da ópera, ao assistir os ensaios exclamou: "Questo giovane comincia da dove finisco io" (Este jovem começa donde terminei). 
   O compositor brasileiro entrou para a galeria dos grandes musicistas de todo o mundo. Ainda assim, Carlos Gomes estava numa situação inversa ao seu talento e prestígio, vivia com pouco recurso financeiro. Tinha muitas dívidas, morava modestamente e sem nenhum conforto num apertado sótão em Milão. Casou-se com uma pianista italiana, com quem teve três filhos. Sua esposa exigia gastos extraordinários por ter uma saúde doentia e frágil. Nesta época, o maestro era ajudado financeiramente pelo querido irmão José Pedro, assim como recebia também auxílio de D. Pedro II.
   O maestro recebia muitas acusações brasileiras, como ser chamado de "brasileiro ingrato", "italiano", e entre outras, diziam que havia plagiado "O Guarani" de um autor anônimo. Sua situação financeira agravara-se, morreu sua esposa, e com poucos recursos teve que cuidar de seus três filhos enquanto atendia as encomendas musicais que lhe faziam.
   Do governo brasileiro não chegava mais nenhum auxílio, apenas o Imperador lhe enviava pequena contribuição tirada do próprio bolso. Apareceram os primeiros sintomas de um câncer na língua provindo do hábito de fumar charutos. Agravando mais a situação, sobrevém a proclamação da República e o maestro percebe com angústia, que passara a ser "persona non grata" em seu próprio país.
   Doente, pobre, endividado e mal visto pelos novos donos do poder, Carlos Gomes sentia estar próximo do fim. Um dos filhos, Carlos André, falecera.
   Em 14 de maio de 1896, o enfermo e alquebrado Carlos Gomes assume o cargo de diretor do Conservatório de Música do Pará, mas em 16 de setembro do mesmo ano, o maestro entrega sua alma a Deus.




Histórias Que A História Não Conta (Paulo Nathanael Pereira de Souza);
site: A Campinas de Carlos Gomes;

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