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domingo, 19 de janeiro de 2020

O Diabo na Música

As Notas Malditas que Habitavam a Terra


   Condenado pelos padres e evitado por séculos, o intervalo musical do mal hoje está em todo o lugar. 
   Como a filosofia e a ciência, na Idade Média, a música erudita, sofisticada, estava nas mãos da igreja.
   Para os monges, os sons deveriam ser angelicais e comoventes, conhecidos como consonantes. Certa sequência de notas, oposta aos sons angelicais, são os chamados dissonantes, que antigamente, eram associados ao Diabo, pelo mesmo ser considerado uma versão deturpada e invertida de Deus.

   Essa combinação terminaria batizada (já bem depois da Idade Média) de Diabolus in Musica (Diabo na Música), também conhecido como trítono. 
   O trítono é um intervalo de três tons inteiros entre duas notas. Usamos como exemplo, a combinação entre as notas Fa e Si, que, quando quando executadas, resulta em uma combinação musical que a maioria das pessoas percebe como perturbadora, tensa, macabra. Escute!!!



Chrétien de Troyes
Hildegarda de Bingen
   Ainda que os músicos adorem repetir a história, trítonos nunca foram banidos pela igreja, muito menos que alguém tenha ido para a fogueira por isso. Ou não há qualquer evidência disso. 

   O que há é gente como o monge e compositor Guido de Arezzo que, ao desenvolver seus hexacordes, recomendou evitar o trítono. Alguns deles como a monja Hildegarda de Bingen e o trovador francês Chrétien de Troyes foram repreendidos ao usá-los pois deveriam seguir as regras de composição impostas pela igreja.

   Inclusive o registro mais antigo do trítono está em Ordo Virtutum, composição da freira Santa Hildegarda de Bingen, composta por volta de 1151. O intervalo aparece, adequadamente, nas partes relacionadas ao Diabo, pois é uma peça falando sobre a redenção da alma contra ele. E soa, de fato, bem sinistro. Repare a mudança de sensação no minuto 2:00 do vídeo a seguir.





Bob Ezrin
   Provavelmente Santa Hildegarda é a razão pela qual o trítono passou a ser relacionado ao Diabo. "Aparentemente era o som usado para chamar a besta.

   Há algo muito sexual no trítono. Na Idade Média, as pessoas eram ignorantes e assustadas, então quando ouviam algo assim e sentiam a reação em seus corpos, pensavam: "ah, aí vem o diabo", diz Bob Ezrin, produtor musical canadense em entrevista à BBC. 
Papa João XXII


   O que chegou a ser banido - e só dentro da igreja - é outra coisa: a polifonia, o uso de mais de uma melodia na mesma música. Isso era comum na música secular medieval, mas não em música sacra, como o canto gregoriano. 
   Foi proibida pelo papa João XXII em 1322, que achava o estilo vulgar, mas a proibição logo seria ignorada.

Andreas Werckmeister


Franz Liszt
   O nome Diabolus em Música aparece só em 1702, mencionado pelo compositor alemão Andreas Werckmeister, dando entender que era um termo bem antigo.
   Ele condenava seu uso e, então, era uma gafe inaceitável para um compositor colocar um trítono na música.


   O tabu seria quebrado com a música romântica do século 19, que abusava de temas sombrios. Como na Sonata de Dante, de Franz Liszt.



Danny Elfman
   Desde então, o trítono está presente em número incontável de canções. 
   Na trilha de abertura do The Simpsons, composta por Danny Elfman, por exemplo. Escutamos o trítono no primeiro segundo, tocado pelos fagotes. O intervalo aparece inúmeras vezes durante a canção. Podemos ouví-lo também no minuto 1:38, executado pelos metais.


   A banda icônica Black Sabbath também aproveitou do efeito desconfortável causado pelo trítono. Podemos ouvir o intervalo logo na introdução da canção Black Sabbath.





fontes                                                      :
publicação de Thiago Lincolins em HA - Aventuras na História (UOL);