O sapateiro e estudioso de teologia Jean de Léry, viajou junto com a expedição colonizadora de Villegagnon, e esteve entre nós nos anos de 1557 e 1558. Léry foi o primeiro a transcrever cantos indígenas. Eis alguns exemplos registrados pelo viajante em seu livro Viagem á Terra do Brasil:
"Canindé jub, canindé jub, eyraoaê..." (Canindé amarelo, canindé amarelo, tal qual o mel...).
Outro exemplo referindo-se a Camuroponiuassu (peixe muito grande):
"pirá-uassú a uéh, camurupuí-uassú..." (peixe grande, estou com fome...).
Referente aos modos da tribo indígena Caraíba, o viajante menciona que "antes de se separarem das mulheres e meninos, os caraíbas proibiam-lhes severamente de sair das casas em que se encontravam".
Léry também mencionou sobre um ritual indígena com a duração de mais ou menos duas horas: "quinhentos ou seiscentos selvagens não cessaram de dançar e cantar de um modo tão harmonioso que ninguém diria não conhecerem música".
Léry também mencionou sobre um ritual indígena com a duração de mais ou menos duas horas: "quinhentos ou seiscentos selvagens não cessaram de dançar e cantar de um modo tão harmonioso que ninguém diria não conhecerem música".
Com esses ditos, fica claro que os índios já faziam e conheciam música, só que não, obviamente, a música européia, a única vivenciada por Léry.
Encontra-se escrito em um manuscrito de fins do século XVI (Notícias do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa) que os pitiguaras" cantam, bailam [...]" e que os caetés, são naturalmente "[...] grandes músicos e amigos de bailar".
Segundo Victor-Charles Mahillon (1841-1924), a riqueza instrumental indígena-brasileira divide-se predominantemente em duas categorias:
Instrumentos de percussão: os chamados Idiófonos, são os que soam por si mesmos quando sacudidos ou percutidos; os chamados Membranófonos são os que soam pela vibração de membranas neles distendidas).
Instrumentos de sopro: são aqueles que soam quando se introduz ar em seu interior através de válvulas ou orifícios, ou aqueles instrumentos que vibram e produzem sons quando agitados no ar.
Instrumentos de cordas: ditos Cordófonos, os que soam pela vibração de cordas, eram raramente encontrados nas tribos brasileiras.
Pero Vaz de Caminha (escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral) menciona a buzina ou corno em uma de suas cartas enviadas ao Rei de Portugal, D. Manuel: "E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos à pregação, levantaram-se muitos deles [indígenas] e tangeram coro ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço".
Ary Vasconcelos diz:
"Ao índio brasileiro, tudo se tem
negado, até mesmo o direito de viver a sua própria cultura, falar a sua própria
língua. Tido por muitos como
incapaz, quase um retardado mental, entretanto, quanto mais é estudado, mais
revela sua verdadeira e forte personalidade, mais se afirma como um criador de
talento. A mera análise de seus instrumentos musicais já basta para dar por
terra com a velha e falsa imagem, forjada, tantas vezes interessadamente, pelos
seus detratores".
Raízes da Música Popular Brasileira - Ary Vasconcelos
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