segunda-feira, 8 de julho de 2013

Música Brasileira - Parte IV: Contribuições dos Negros

   A contribuição negra foi decisiva para nossa música em quase 400 anos (período do tráfico negreiro). As primeiras levas de escravos africanos chegaram em São Paulo no ano de 1538, na cidade de São Vicente. Contudo, Portugal já escravizava africanos desde meados de 1400. Assim sendo, é possível NÃO termos recebido a música africana em sua pureza, e sim com pequena influência portuguesa.
   A folclorista e jornalista Oneyde Alvarenga relacionou algumas das principais contribuições, como:
   - frequência de escalas sem sensível ou com o sétimo grau abaixado; 
   - origem ou apenas sistematização da síncopa; 
   - tônica alcançada num movimento de notas rebatidas, partindo da mediante; 
   - estrofe poético-musical improvisada, seguida de refrão curto; 
   - quebra da quadratura melódica através de vários processos; 
   - cantos e rituais fetichistas afro-brasileiros que escapam pela sua estranheza (pelo uso da escala com a sétima abaixada, de escalas pentafônicas e hexacordais) do caráter da música popular brasileira;
   - presença da umbigada como elemento coreográfico;
   - diversos nomes de danças;
   - grande número de instrumentos de percussão;
  - criação de danças-dramáticas como as congadas, os congos, os cucumbis, as taierias, os quicumbres e os quilombos;
   - a existência, na voz cantada brasileira, de um nasal, causado certamente pelo mestiçamento com o negro;
   O compositor e musicólogo Luciano Gallet relaciona alguns cantos de origem negra ou usados pelos negros, como a Chula (canção); o Lundu ou Landum (canção brejeira); Acalantos (berceuses); invocações as santos; cantos de feitiçaria (em várias circunstâncias); cantos de trabalho (entoados nas ruas, nos ofícios e nos serviços diários); cantos de engenho (usado durante a moagem da cana); cantos de Cucumbis (nos bailados e cerimônias); cantos de Congados (em grande quantidade de melodias); cantos de carnaval; cantos de rua (alguns célebres como "O Bilontra", "Chô Araúna", "Toca Zumba").

Toca Zumba

Nossa gente já está livre, só trabaia se quisé, si'siô!
"Toca zumba, zumba, zumba"
Vamos ter o nosso casa e também nosso muié, si'siô!
"Toca zumba, zumba, zumba"

Nosso Rei é liberá!
Si'siô é liberá, si'siô é liberá
"Toca zumba, zumba, zumba"

Ai uê! Ai uau!
Os plêto nunca mais apanhará de bacalhau!
"Toca zumba, zumba, zumba"
Ih ih, para os blanco, que dia sinistro,
aquele que os nêgo chegar a sê ministro!



Raízes da Música Popular Brasileira (Ary Vasconcelos)

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