Padre Lourenço Ribeiro (1648 - 1724)
Além de aplaudido orador sacro era excelente cantor de modinhas. Tinha um grande desafeto por Gregório de Matos que o atacava por ser um padre mulato.
Em uma de suas poesias, Lourenço satiriza furiosamente tentando demonstrar a absoluta mediocridade de Gregório.
Mui contente, e muito ledo
mostra, que não tem mais trato,
do que arranhar como gato
no Parnaso de Quevedo:
traz o mundo em um enredo
com sátiras tão malditas,
que achando-as em livros escritas
se admiram todos que a vêem:
mas não o saiba ninguém.
Afonso Rui, em "Boêmios e Seresteiros Baianos do Passado, 1954", a ele assim se refere: "No século XVII tornou-se famoso na arte de compor modinhas, rival de Gregório Matos".
Clicando na música Sanctus, você poderá ouvir esta obra polifônica composta pelo Padre e interpretada pelo coro português Gulbenkian.
Gregório de Matos (1633 - 1696)
Considerado o "Homem do Lundu", além de poeta, compositor, entre outras habilidades, nasceu em Salvador (Bahia) e morreu em Recife.
Ganhou o apelido de "Boca do Inferno" ou "Boca de Rasa", pois tinha um gênio terrível, além de uma linguagem desabrida e muito satírica. Arrumou confusão com a nobreza, com presbíteros, com o governador, etc., pessoas estas a quem dedicou versos altamente satíricos.
Gregório de Matos não deixou barato o ataque que o rival Padre Lourenço Ribeiro demonstrou em seus versos acima, e retrucou com um crudelíssimo escárnio ao padre mulato.
Imaginais, que o insensato
do canzarrão fala tanto,
porque sabe tanto, ou quanto,
não, senão porque é mulato:
ter sangue de carrapato,
ter estoraque de congo,
cheirar-lhe a roupa a mondongo,
é cifra de perfeição:
milagres do Brasil são.
Raízes da Música popular Brasileira (Ary Vasconcelos);
História Social da Música Popular Brasileira (José Ramos Tinhorão);
Os Metros do Boca - Teoria do verso em Gregório de Matos (Rogério Chociay);
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