Entre os Santos e os Andores
Teto da nave central da Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG). Obra de Manuel da Costa Ataíde |
A igreja pode pensar séculos adiante e se dar ao luxo de esperar, pois seu tempo é a eternidade.
Não se pode dissociar a história da música da história da igreja. Que seria das bandas, dos corais, das organizações que morrem com seus entusiasmados líderes, não fosse a continuidade assegurada pela igreja, o edifício físico capaz de ser o repositório dos documentos e das partituras, como também a igreja em seu espírito, assegurando a necessidade da presença da música.
Ilustrações da pintura no teto da sacristia do Convento de Santo Antonio de Igaraçu (PE). |
Em 1776, nasceu em São João del-Rei a Lira São Joanense. Como quase toda irmandade musical religiosa da época, era formada por homens negros.
Página de rosto de manuscrito pertencente à Orquestra Lira São-Joanense,São João del-Rei (MG) |
Isso valia para toda Minas Gerais. José Joaquim Lobo de Mesquita (1746-1805), mestre-de-capela da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Vila do Príncipe, hoje Serro, que teve influência decisiva na formação musical do final do século XVIII, pertencia ao Terço de Infantaria dos Pardos e à Confraria de Nossa Senhora das Mercês dos Homens Crioulos.
A Lira São-Joanense toca nas igrejas e nas festas religiosas. Um de seus grande dias é a procissão do Trânsito de Nossa Senhora, em louvor de Nossa Senhora da Boa Morte, também chamada de Semana Santa dos Mulatos, promovida pela Confraria dos Negros e Mulatos da cidade.
1. Livros de Cânticos em notação gregoriana. Museu da Música, Mariana (MG); 2. Estante de couro com livro de cânticos na Igreja do Carmo, Recife (PE); 3. Detalhe do livro de cânticos sobre a estante. |
Páginas de rosto de manuscritos antigos. Lobo de Mesquita. |
Reprodução de gravuras que representam trechos de uma ladainha para Nossa Senhora. Partes de uma coleção conservada no Convento do Desterro, em Salvador (BA). |
É evidente que a música aprendida em função da atividade religiosa não poderia ficar apenas presa à igreja. Teria que ir também para a rua e servir de meio à expressão da criatividade popular. A expressão "profana", quando usada nesse contexto, não significa necessariamente algo de pecaminoso. Apenas quer dizer "música não religiosa".
Várias formas de música popular se originam dos conhecimentos adquiridos nos ensaios de coro nas igrejas e nos cantos das procissões. Quando repetidos em casa, aprimoram e inspiram o gosto pela música: ladainhas e novenas são cantadas enquanto se borda, se cozinha ou se lava a roupa, lado a lado com modinhas e canções de amor.
Para quem se diverte numa festa de rua não há diferença entre a música de inspiração religiosa e a de sabor tipicamente popular.
Fonte
Fonte
Modinha, Raízes da Música do Povo (José Rolim Valença);
Um comentário:
Muito Bom Thelo !
Postar um comentário