terça-feira, 31 de agosto de 2021

Curiosidades Musicais de 1979

 Mas, por quê 1979?

 Escolhi pesquisar e compartilhar alguns acontecimentos deste ano, simplesmente pela curiosidade de descobrir o que aconteceu no ano do meu nascimento. 

 Recentemente ganhei um livro muito bacana do mestre e amigo Odair Lima, que fala sobre os períodos da música brasileira e as canções mais executadas, ano a ano. Resolvi então, ir direto a 1979 e buscar mais algumas curiosidades.


 O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc)


 Nossos compositores sempre tiveram o costume de registrar em música e verso acontecimentos relevantes, às vezes, nem tanto, da vida brasileira. Um rápido exame do repertório nacional encontrará revoluções, campanhas políticas, feitos de brasileiros e outros fatos inspirando canções de crítica ou louvação. Nem mesmo a censura ferrenha de duas ditaduras foi capaz de impedir essa prática, muitas vezes disfarçada pelo uso de imagens alegóricas. Este é o caso de "O Bêbado e a Equilibrista), notável composição de João Bosco e Aldir Blanc, que focaliza uma promessa de abertura democrática, na ocasião cercada de incertezas. Parodiando a forma de um samba-enredo, a canção descreve uma cena patética em que dois personagens -o bêbado e a equilibrista - movimentam-se ridiculamente num fim de tarde sombrio: "e nuvens / lá no mata-borrão do céu / chupavam manchas torturadas"

 O bêbado trajando luto e lembrando Carlitos: "fazia irreverencias mil / pra noite do Brasil / (...) / que sonha com a volta do irmão do Henfil / e tanta gente que partiu"... ou seja, para a situação brasileira da época.

 Já a equilibrista, era: "a esperança (que) dança / na corda bamba de sombrinha / (e) em cada passo dessa linha / pode se machucar"... o que correspondia a expectativa ansiosa de um projeto de êxito imprevisível. E a canção prossegue, utilizando conscientemente o mau-gosto e o lugar-comum como forma chocante de expressar a crítica a uma realidade indesejada: "chora / a nossa pátria, mãe gentil / choram Marias e Clarices / no solo do Brasil".

 Diga-se de passagem que "o irmão do Henfil" e as "Clarices" citadas nos versos referem-se a personagens reais, sendo o primeiro o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, irmão do cartunista Henfil, na época exilado, e a segunda, Clarice, viúva do jornalista Vladimir Herzog, assassinado numa prisão da ditadura, em São Paulo. "O Bêbado e a Equilibrista" foi lançada por Elis Regina em junho de 1979, numa gravação orquestrada e dirigida por César Camargo Mariano, integrante do elepê Elis, Essa Mulher, o primeiro da cantora da gravadora WEA.


Começar de Novo (Ivan Lins e Vitor Martins)


 Convidados a criar um tema musical para a série da Globo, Malu Mulher, a dupla Ivan e Vitor compuseram "Começar de Novo". O assunto liberação, vida nova de uma mulher recém-separada que tenta sair de uma condição de dependência, foi habilmente desenvolvido por Vitor, podendo ser aplicado a qualquer pessoa, independente de sexo: "começar de novo e contar comigo / vai valer a pena ter amanhecido / ter me rebelado, ter me rebatido / ter me machucado, ter sobrevivido / ter virado o barco, ter me conhecido...". Ivan completou a música em menos de duas horas, sobre uma letra que o parceiro ainda pretendia alongar, mas teve que deixar como estava, em virtude da data de estreia da série.

 Faltava então, escolher a cantora: Nana Caymmi acabara de gravar "Velas Içadas", Elis pretendia gravar "Moças" (o que acabou não acontecendo) e Simone gravara "Saindo de Mim", num disco praticamente concluído, sendo todas essas músicas de Ivan e Vitor. Ao ser procurada, Maria Bethânia não quis nem ouvir "Começar de Novo", pois, estando com o repertório de seu novo disco definido, "não podia se arriscar à tentação de ter que mudá-lo". O jeito foi retornar a Simone e convencê-la a gravar às vésperas de estreia da série. 

 A canção teve êxito com Simone, tanto quanto com gravação feita pelo próprio Ivan Lins, com ambos arranjos feitos pelo pianista Gilson Peranzzetta. A canção também foi gravada no exterior por Patti Austin e Sarah Vaughan, com o título "Island".

 Quando Bethânia ouviu a gravação de "Começar de Novo" na voz de Simone, confessou aos autores que, a partir de então, "jurava jamais considerar fechado o repertório de um disco seu".


Realce (Gilerto Gil)

 Ao começar expandir sis atividades na Europa, após o primeiro show no Festival de Montreux (1978) e em plena era da disco music, Gil passou a se preocupar em produzir composições especificamente para o público de outros países. Conforme relata no livro Todas as  Letras, foi em razão do seu interesse por meditação e filosofia oriental que compôs "Realce", uma canção sobre wu wei, termo chinês que significa "ação da não ação": "não se incomode / o que a gente pode, pode / o que a gente pode, explodirá / a força é bruta / e a fonte da força é neutra / e de repente a gente poderá...". Estas e outras considerações espalhadas pelas estrofes são intercaladas por um festivo refrão, no estilo discothèque, em que referências à purpurina e à serpentina ajustam-se ao que o autor classifica de "superfície do profundo". "Realce custou muito tempo e aflição para ser feita", conta Gil. A começar pelo fato de ser "fecho da trilogia dos re - Refazenda, Refavela (substituta do samba Rebento)".

 A cada dia, "Realce" ficava mais difícil de ser concluída, e Gil conta que gastou mais de dez páginas de esboço e só conseguiu finalizar "Realce" após dois meses de excursão pelos EUA, quando já estava gravando o disco lá.


 Outras pequenas notas curiosas:

 - Michael Jackson lança Off the Wall, seu primeiro álbum da fase adulta; até hoje, é o álbum de música black mais vendido da história;

 - Pink Floyd lança o lendário álbum, The Wall;

 - The Clash lança London Calling, seu disco mais conhecido e o mais inspirador da história da música punk;

 - A banda AC/DC ganha fama mundial com o disco Highway to Hell;




fontes                                                                                                  
A Canção no Tempo (J. Severiano e Zuza Homem Mello);
Wikipedia;

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