O Studebaker e o Violão
Um amigo de Menescal, Gustavo, Comprou um Studebaker branco, com rodas cromadas e capota conversível azul-marinho automática.
Menescal, que já tocava um violãozinho, teve a ideia de irem os dois com o carro e violão para a porta do Metro, a fim de esperar a saída da sessão das quatro e impressionar as garotas.
Estava tudo planejado: eles ficariam parados na porta do cinema, bem à vontade, como quem não quer nada. Assim que se abrissem as portas, Gustavo apertaria o botão da capota, que se abriria lentamente mostrando os dois com o violão no banco de trás. Seria difícil para qualquer garota resistir a tal espetáculo.
Roberto Menescal |
Eles ainda tentaram impedir a catástrofe, mas era tarde demais: todo mundo realmente parou, mas para olhar o violão sendo destruído. "Foi a maior vergonha", lembra Menescal.
Microfone Suspeito
Em Copacabana ficava a casa do compositor Lula Freire, cujo pai era um influente político brasileiro. O apartamento era uma mistura inusitada de política e música.
Lula Freire |
"Você abria a porta da casa e encontrava o Baden Powell com o Chico Fim de Noite. Aí, entrava na outra sala e estava meu pai com o presidente Kubitschek, o senador Gilberto Marinho e o poeta Augusto Frederico Schmidt", lembra Lula. O apartamento era um ponto de encontro de músicos e amantes do jazz.
Maria Helena, mãe de Lula, conhecedora de jazz e música clássica, não só permitia o som que invadia as madrugadas como participava ativamente das reuniões. Stan Kenton, Julie London, Chet Baker, entre inúmeros outros, eram ouvidos até o sol nascer.
Por volta de 1965, em pleno regime de exceção, ocorreu um fato engraçado naquele apartamento. Numa noite de música, o violonista Candinho reparou que pelo lado de fora da janela, quase na altura do teto, vindo de um andar superior, estava pendurado um microfone, obviamente destinado a gravar o que por ali se passava. Candinho chamou o senador Victorino, pai de Lula, homem de temperamento altamente explosivo, e apontou para o microfone. O senador mandou buscar uma vassoura e preparou-se para desferir uma violenta vassourada no microfone.
"Vou estourar os ouvidos deste sujeito que está bisbilhotando minha casa".
Felizmente foi impedido por Lula, avisando o pai que o fio do microfone vinha do apartamento de um vizinho amigo, do 10º andar, o médico dr. Otávio Dreux. O senador ligou imediatamente para a casa do dr. Dreux, sendo atendido pelo filho mais moço do amigo, Chico. Muito sem jeito, o menino explicou que como adorava Bossa Nova, resolvera gravar o som que saía pela janela do apartamento.
Desfeita a suspeita da incômoda presença do SNI (Serviço Nacional de Informação) em sua casa, o senador riu muito e autorizou formalmente a gravação "externa" da noite, que correu cheia de música e com o microfone pendurado do lado de fora da janela.
A História da Bossa Nova, Volume 1 - edição especial Caras;
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