quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Episódios Inusitados da Bossa

O Studebaker e o Violão


   Um episódio engraçado envolvendo o cinema Metro aconteceu com Roberto Menescal. Na época, os carros eram um sonho quase inatingível para muitos adolescentes, principalmente os carros conversíveis.
   Um amigo de Menescal, Gustavo, Comprou um Studebaker branco, com rodas cromadas e capota conversível azul-marinho automática. 
   Menescal, que já tocava um violãozinho, teve a ideia de irem os dois com o carro e violão para a porta do Metro, a fim de esperar a saída da sessão das quatro e impressionar as garotas. 
   Estava tudo planejado: eles ficariam parados na porta do cinema, bem à vontade, como quem não quer nada. Assim que se abrissem as portas, Gustavo apertaria o botão da capota, que se abriria lentamente mostrando os dois com o violão no banco de trás. Seria difícil para qualquer garota resistir a tal espetáculo.
Roberto Menescal
   E lá se foram os dois. Tudo teria corrido muito bem, não fosse o fato de o violão ter sido deixado na parte traseira, perto do porta-malas do carro. Na hora H, Gustavo apertou o botão e, conforme a capota foi baixando, também foi esmagando lentamente o instrumento.
   Eles ainda tentaram impedir a catástrofe, mas era tarde demais: todo mundo realmente parou, mas para olhar o violão sendo destruído. "Foi a maior vergonha", lembra Menescal.


Microfone Suspeito


   Em Copacabana ficava a casa do compositor Lula Freire, cujo pai era um influente político brasileiro. O apartamento era uma mistura inusitada de política e música.
Lula Freire
   "Você abria a porta da casa e encontrava o Baden Powell com o Chico Fim de Noite. Aí, entrava na outra sala e estava meu pai com o presidente Kubitschek, o senador Gilberto Marinho e o poeta Augusto Frederico Schmidt", lembra Lula. O apartamento era um ponto de encontro de músicos e amantes do jazz.
   Maria Helena, mãe de Lula, conhecedora de jazz e música clássica, não só permitia o som que invadia as madrugadas como participava ativamente das reuniões. Stan Kenton, Julie London, Chet Baker, entre inúmeros outros, eram ouvidos até o sol nascer.
   Por volta de 1965, em pleno regime de exceção, ocorreu um fato engraçado naquele apartamento. Numa noite de música, o violonista Candinho reparou que pelo lado de fora da janela, quase na altura do teto, vindo de um andar superior, estava pendurado um microfone, obviamente destinado a gravar o que por ali se passava. Candinho chamou o senador Victorino, pai de Lula, homem de temperamento altamente explosivo, e apontou para o microfone. O senador mandou buscar uma vassoura e preparou-se para desferir uma violenta vassourada no microfone.
   "Vou estourar os ouvidos deste sujeito que está bisbilhotando minha casa"
   Felizmente foi impedido por Lula, avisando o pai que o fio do microfone vinha do apartamento de um vizinho amigo, do 10º andar, o médico dr. Otávio Dreux. O senador ligou imediatamente para a casa do dr. Dreux, sendo atendido pelo filho mais moço do amigo, Chico. Muito sem jeito, o menino explicou que como adorava Bossa Nova, resolvera gravar o som que saía pela janela do apartamento.
   Desfeita a suspeita da incômoda presença do SNI (Serviço Nacional de Informação) em sua casa, o senador riu muito e autorizou formalmente a gravação "externa" da noite, que correu cheia de música e com o microfone pendurado do lado de fora da janela.


A História da Bossa Nova, Volume 1 - edição especial Caras;

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